sábado, 5 de julho de 2014

Crítica

"LONGOS ANOS"
CIA. HECATOMBE

No dia 20 de junho, esteve em cartaz, no Centro Cultural Vasco a peça “Longos Anos”, da Cia Hecatombe. Na proposta da peça, a cada apresentação um ator é convidado para ler/interpretar a personagem Joana do texto de Homero Ferreira. Nesta ocasião, o ator convidado foi Linaldo Telles.
No site do jornal Diário (DiarioWeb), saiu uma reportagem que tinha como título: “Hecatombe explora limites entre encenação e leitura”. Começarei minha abordagem por esta afirmação, concordando com ela, porém afirmando que o espetáculo vai além disso! Em minha opinião Homero põe em cheque a essencialidade do texto teatral. Esta exploração dos limites entre leitura e encenação é apenas um dos fatores desta opção em pautar-se e testar a comunicabilidade cênica do texto quando se reduz quase que à um marco zero (neutro) a encenação.
Aparentemente o forte da pesquisa artística de Homero é o trabalho dramatúrgico. Seu texto tem um argumento muito forte (bem definido) e um desenvolvimento inteligente. Porém, o que observei durante a apresentação é que a primeira metade da peça pauta-se muito no esvaziamento dos elementos teatrais e na repetição do jogo entre a interpretação construída (ainda que sutil) e a quebra metalinguística, somente. Enquanto que da metade para o final há estruturalmente, uma variação dos jogos e dinâmicas de interação entre um ator e outro; os atores e os elementos cênicos; os atores e o espaço; dos atores com a plateia; e entre os atores e o texto. O que deixa a peça um pouco mais dinâmica.
Não estou defendendo aqui que se crie artifícios para que a peça torne-se mais agradável à fruição. Isto seria trair a pesquisa, em função de um “mal costume” da plateia brasileira que não consegue acompanhar uma peça que não a entretenha rapidamente. Porém, penso que estes jogos e interações poderiam se alternar com os momentos de esvaziamento desde o início e não de maneira tão cindida entre primeira e segunda parte da peça, pois à medida que eles se desenham da metade para o final as várias camadas da trama de Ferreira tornam-se mais claras e acessíveis.
Outro ponto forte do trabalho é a interação simbólica entre dramaturgia e a (pouca) encenação, como por exemplo, as mãos pintadas, o sofá que murcha no final, os bonecos de plásticos, etc.
Entretanto, não entendo o porquê do acúmulo de tantas funções no processo criativo (apesar de Homero justificar-se no início da apresentação como falta de agenda dos atores e atrizes com os quais tentou trabalhar). Penso que este fato segura um pouco a peça. Assisti a estreia e a apresentação no Vasco e creio que o distanciamento entre a função criativa do dramaturgo e a função criativa do ator contribuiria muito para livrar a peça de um caráter superplanejado que a acompanha (talvez uma supercompensação para não se perder nos momentos mais abertos da peça). Penso que seja um exercício muito positivo o Homero se afastar da cena e convidar mais pessoas para o projeto. Esta “coletividade” pareceu funcionar bem nos outros trabalhos da Cia.
Finalizando: A peça deve ser vista (e revista) por propor esta abertura ao acaso de um ator convidado e mesmo da interação com o público, pelo texto de Homero e, sobretudo, pela pesquisa da Cia. Hecatombe, que não se prende só num âmbito regional, mas parece refletir aspectos da cena teatral latino-americana.
Parabéns!"

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